domingo, 25 de julho de 2010

BODEGA - AMEAÇADA DE EXTINÇÃO

por: Nonato Adiodato

O Bodegueiro e a Freguesia
                                   Nonato Adiodato

Dentre todas profissões
Divertida é a do bodegueiro
Acorda antes do Sol
Com a batida do padeiro
E já pisa na calçada
Um coitado biriteiro

E vai se fazendo fila
Todo tipo de freguês
Alguns compram a vista
Outros pagam por mês
Cada qual tem um jeito
Há quem engane de vez

A vida do bodegueiro
E uma boa rotina
Com um freguês se aprende
E pra o outro ensina
É na bodega que se assiste
Todo tipo de disciplina

A bodega é um shoping
O bodegueiro é eficiente
O que se procura tem
Todos andares num só ambiente
De manhã até a noite
Se atende muita gente

Os supermercados tentam
Só não ganham a concorrência
O freguês é bem fiel
Não se ilude por aparência
Melhor é o pé de balcão
Que se tem boa referência

A bodega é a casa do povo
Lugar de muita diversão
Lá se vende e compra tudo
Desde a carne até o carvão
É um shoping popular
Atende o empregado e o patrão
O ambiente é simples
Mas bem confortado
Tem alguns tamboretes
Todo mundo sentado
Às vezes tem até tucuns
Quem quiser fica deitado

Quem chega bem cedinho
Vai-lhe servindo o café
O bodegueiro oferece
Tudo que ele tiver
O freguês serve-se
De tudo o que quiser

Na bodega tudo é fácil
Nada de burocracia
Diferente de um banco
Que em ninguém confia
Pois se pedirem empréstimo
O gerente pede garantia

E o banco não perdoa
Nenhuma inadimplência
No caso da bodega
O dono tem paciência
Não vai cobrar o pobre
Pois lhe dói na consciência

Porque para Deus empresta
Quem se compadece do pobre
E lhe pagará seu benefício
Não com ouro, prata, ou cobre
Mas terá um tesouro no céu
E na terra será sempre nobre

O bodegueiro de verdade
É mais social que capitalista
Os fregueses trocam dinheiro
Na bodega desse cambista
Que fornece e ajuda o pobre
E ao estranho vende a vista

Se você tem produção
A bodega faz seu preço
Também empresta Real
E mais perto é o endereço
Quando quero fazer negócio
Vou sempre na que conheço

Seja na zona urbana ou rural
A bodega sempre aparece
Todos confiam no bodegueiro
Pois sabem que ele merece
Vende fiado para muitos
Sem exigir o CPF

Sem o pinguço “pedir uma”
Também é bem atendido
Quando chega um mendigo
Lhe é logo oferecido
Comida e água vontade
Sem passar despercebido

O bodegueiro tem muitas funções
Além de comprar e vender
Ele é um agente social
Você precisa saber
Quem é fiel a uma bodega
Tem uma vida pra valer

O bodegueiro tem um transporte
Que se transforma em ambulância
Para quando de madrugada
Adoecer uma criança
Ele financia o remédio
Você tem saúde na infância

Se tem pouco dinheiro
O bodegueiro quebra seu galho
Faz tudo pelo freguês
De mercado ou no retalho
Todo mundo sabe disso
É assim o seu trabalho

Contudo não é reconhecido
Pega o nome de ladrão
Mas isso são os espinhos
Que têm nessa profissão
Trabalho visando lucros
E é um honesto cidadão

Os fregueses debatem política
Futebol e também religião
Só o comerciante é neutro
Sujeito puro de coração
Ajuda a quem precisa
Fora de campanha ou eleição

O seu pensamento é diferente
Por ele ser empreendedor
Tem uma visão mais ampla
De tudo ele é sabedor
Por escutar mais do que fala
E tem freguês até doutor

Os fregueses vão chegando
Do lado de fora balcão
Vem o pescador e suas mentiras
Que pega peixe até de mão
O bodegueiro fica a escutar
E chega um freguês do sertão

Cada freguês da bodega
Bem é um fornecedor
Seja ele um fazendeiro
Ou mesmo agricultor
São amigos do bodegueiro
Como também o jogador

O artesão vem do campo
Trazendo vassoura e peneira,
Corda, chapéu e abano
Vende tudo e faz sua feira
Vai entrando uma senhora
Sendo atendida desta maneira:

Aqui tem o que precisa
A senhora pode escolher
Tudo em alimentos
E também para beber
Material de limpeza
Da qualidade de que se ver

E para a rapaziada
Tem chiclete e bombom
As meninas vêm faceiras
Comprar esmalte e batom
Só se escuta as falas
Aqui tem tudo de bom

Os vendedores são amigos
Para qualquer ocasião
Entre bodegueiro e fornecedor
Não se sabe quem é o patrão
Cada um com seu jeito
De agradar ao irmão

Quando amanhece o dia
Vai chegando muita gente
O bodegueiro bem disposto
Atende prontamente
Seja domingo ou feriado
Ele está no batente

O trabalho do bodegueiro
É sempre duro demais
Mas ele não se cansa
Porque gosta do que faz
Pois sabe das vantagens
Que o trabalho trás

Seja na hora do almoço
O comerciante trabalha
Está sempre no batente
Numa grande batalha
Qualquer hora do dia
O bodegueiro não falha

O bodegueiro psiquiatra
E a bodega seu divã
Quem chega estressado
Volta calminho amanhã
No bate papo com amigos
Como uma pessoa sã

Os problemas familiares
São bastante comentados
Desde o filho rebelde
Desde o filho rebelde
Até relação de casados
Também sobre saúde
Um assunto bem falado

Se pedirem opinião
O bodegueiro é conselheiro
Faz mulher separada
Voltar pro companheiro
Todo tipo de encrenca
Ele acalma bem ligeiro

Chega um bêbado chorando
O bodegueiro vai consolar
Naquele tom de humor
Não precisa se lastimar
Se sua mulher lhe chifrou
É melhor você perdoar

Sempre aparece na bodega
Algum estranho trapaceiro
Querendo levar vantagens
Em cima do bodegueiro
Tentando lhe fraudar
Mas ele é bem cabreiro

Em se tratando de velhacos
O bodegueiro é desconfiado
Ele destingue o semblante
De quem quer levar fiado
Se ele vender é sabendo
Que vai ser enganado

Ele trabalho satisfeito
Sem planger prejuízo
Só espera do amanhã
Alcançar seu regozijo
Suplicando a Deus
A manutenção do juízo

No final deste cordel
O espaço é do poeta
Nomeando nesses versos
A letra que bem completa
Todos conhecem Nonato
O bodegueiro que tem meta

A decisão foi minha
De rimar o bodegueiro
Imitando minha vida
O mais preciso e ligeiro
De tudo que escrevi
A verdade veio primeiro
Tenho que me despedir
O tempo foi passageiro

Concluído no dia do fico do ano 2008
FIM

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